Contos do Quotidiano

Contos do Quotidiano

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Adeus esquecido

A descida do Largo do Leão estava congestionada quando me aproximei da traseira dos ultimos veiculos. São habituais estes congestionamentos por causa das paragens de automobilistas que vão entregar os filhos ao infantário que existe nesse local. Há pais que se demoram um pouco mais na entrega, porque é dolorosa a despedida do rebento. Outros....nem por isso. Reparei que num dos veiculos, uma criança saía e acenou em sinal de despedida. Não foi correspondida nem pela suposta mãe nem pelo suposto irmão que se encontravam no interior do veiculo. Deu mais uns passos e voltou-se na esperança de ser correspondida num qualquer carinho...ou um simples olhar. Nada. Continuou o seu caminho em direcção ao infantário e eu arranquei atrás dos outros veículos, magoado, sem ter nada a haver comigo.
Depois de ter presenciado este pequeno episódio do quotidiano, lembrei-me de uma frase que vem nas primeiras páginas do livro "Ensaio Sobre A Cegueira"de José Saramago e que diz :
"Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara."

domingo, 7 de fevereiro de 2010

É só velhos......

Cheguei o melhor possível a entrada do autocarro à paragem porque tinha uma enormidade de velhos à minha espera. As primeiras velhinhas que subiram vinham com uma expressão carrancuda. "Estamos aqui há meia hora....." , disseram. Pensei cá para comigo "Se calhar vão trabalhar...". Depois de todos subirem e sentarem-se, arranquei suavemente para evitar quedas ou mais comentários. Enquanto conduzia em direcção a Alcantãra, chegou-se a mim, sorrateiramente, um velhinho com um ar bem disposto, rosto avermelhado e um hálito....tinto frutado e disse: "Isto é só velhos..." e com uma voz fantasmagórica que ecoou, " o fim está próximo". Retirou-se em gargalhadas roucas de catarro para a traseira do autocarro.